sexta-feira, 26 de novembro de 2010

De lá até aqui


Eu nasci e vivi a maior parte de minha vida em Juquiá, pequena cidade do interior do estado de São Paulo. Grande parte dos meus 33 anos morei na zona rural desta cidade. Nessa época eu ecrevi esse poema, que expressa muito do que eu pensava, sonhava, almejava... Creio que, como eu, existem muitos outros nesse país que não se prendem as circunstâncias, espaço ou tempo, e viajam em suas canções, poemas e tantas outras maneiras de viajar por este tão vasto mundo.

Lavrando

Levanta-se o sol.
Inclina-se sonhando um lavrador.
Marcha forte e contundente.
Reluzente em suor e golpes.
Desbrava a realidade para realizar-se.
Decepa bravo
até restaurar-se
num breve ereto descanso.
Então, suspira
e aspira confiante.
Vai em frente.
As moitas deitadas
não murcham com mais pressa
que o avanço do seu corpo e ferramenta.
Cumpre voraz sua tarefa.
Mas, nem o som
dos açoites constantes da foice,
em seu "vai e vem" cortante,
lhe encobrem as intenções.
Manuseios e anseios
simultâneos e independentes.
Momentâneo esforço físico.
Conseqüente recompensa
e aprovação
de uma mente que está adiante.

          Jefferson Lara do Nascimento

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Perverso

Bang

Enquanto corre
e lhe ocorre tosca razão,
persegue o pão na vida alheia.
Cumpre ainda preciso ardiloso ofício.
Subsiste da desgraça que semeia,
hoje já com fadigas.
Seu tempo de serviço é seu suplício.

Talves deite-se depois da lida.
Quiçá durma.
Contudo,
não lhe cabe a calma.
Sua família é sua penitência.
Teme para os seus
a sorte que lhe caleja a palma.

Volta-se para sí sua insensatez.
"Sua existencia é sua eficiencia",
a morte lhe insinua.
Escrúpulos forjados cumulam:
"Não precisará de esforço.
Será de graça pela primeira vez,
mas a vítima lhe ocupa o corpo".

Jefferson Lara do Nascimento

"Os tesouros da impiedade de nada aproveitam, 
mas a justiça livra da morte". Provérbios 10:2